PROGRAMAÇÃO
Sexta, 29 de setembro
14h00-15h20
L'intérprétation du doute cartésien par Clerselier dans la Préface a l'Homme de Descartes.
Siegrid Agostini, Universidade do Salento
Descartes e a genealogia da teodiceia moderna em Leibniz e Malebranche.
Alfredo Gatto, USP/FAPESP
15h40-17h00
L'homme dans la deuxième méditation
Igor Agostini, Universidade do Salento
"O homem seria o animal capaz de admirar e de se surpreender?"
Wojciech Starzynski, Academia Polonesa de Ciências
17h00- 18h20
O voluntarismo cartesiano à luz da discussão entre Gueroult e Lívio Teixeira
Edgard Vinícius Zanette, UERR
Considerações sobre a impossibilidade de definir o homem a partir de Descartes
Alexandre Guimarães Tadeu de Soares, UFU
19h30-21h00
Imperfection et perfection de l’homme
Pierre Guenancia, Universidade da Borgonha
Ao mostrar o compromisso da definição tradicional do homem com a Metafísica aristotélica, Descartes exige uma reconsideração do conceito de homem: “Mas que é um homem? Direi, acaso um animal racional? Não, porque seria preciso perguntar em seguida que é animal e que é racional”. Ao praticar uma alia via, a via das ideias, que caracteriza a emergência da Filosofia moderna, como bem assinala Pierre Guenancia, Descartes pôde repensar a questão do homem. Vale lembrar que ele retirou o forte caráter conceitual que a Ideia tinha na tradição clássica, que consistia nas essências, por excelência, ou nos arquétipos da criação. Ao entender ideia como mera ocorrência mental, pôde pensar o seu campo como o que é mais imediatamente nosso. Uma Física matemática é fundamentada nessa perspectiva, pois o matemático, que é pensável só mentalmente, irá condicionar o tratamento das coisas da natureza. Nesse sentido, um dos aspectos da reconsideração do homem é a possibilidade do entendimento do seu corpo como mecânico, por recurso à figuração matemática. Outro aspecto dessa reconsideração, que é seu ponto de partida radicalmente filosófico, é a grande temática do Cogito e da sua dificuldade de definição. Dificuldade que põe na ideia de infinito a referência para todo o entendimento de nós mesmos. Essa dificuldade imposta pela (in)determinação do pensamento se aprofunda na explicitação de um de seus modos, o do sentir, que abre propriamente todo o campo da união substancial e das ideias da nossa sensibilidade. Trata-se de um assunto que, pertencendo ao âmbito da experiência propriamente dita, escapa a toda conceituação definitiva e que está para além de qualquer modelo explicativo. Ideias, afinal, já não são necessariamente essências e conceitos, ou seja, já não consistem necessariamente na coerência entre sujeito e predicado. Entramos, assim, num terreno que exige, para completar toda a consideração explicativa, a descrição do que seja o homem, da sua natureza e das suas paixões. Em termos propriamente cartesianos, seria pensar menos pelo conceito do que pela ideia. Esse horizonte da ideia assim entendida nos leva para além da dificuldade de conceituar o homem, pondo-nos no campo mais amplo da própria impossibilidade de definir a ideia de homem. Será que o próprio do homem _ radicalmente falando _ não consistiria no malogro de toda tentativa definição? Descartes realmente teria formulado uma nova proposta de definição do homem? Será que a sua reconsideração pela ideia de infinito corresponderia a uma nova definição de homem? Como a dúvida cartesiana poderia ajudar-nos a entender a diferença entre ideia e conceito? Como Descartes mostra as limitações do entendimento mecânico do corpo e da própria evidência matemática? Como emerge a ideia de outro homem em Descartes? Que racionalidade é fundada nesse esforço cartesiano de reflexão sobre o humano? A teoria da livre criação das verdades eternas poderia reconfigurar a racionalidade humana? Como o homem poderia ser descrito a partir da vivência de suas paixões? Qual seria o novo sentido que Descartes atribui à paixão da admiração? Em que medida o homem poderia ser repensado a partir da sua liberdade? Qual relação haveria entre o bom uso da própria liberdade e a perfeição do homem? Que humanidade seria vislumbrada a partir da ideia de uma comunidade dos generosos?
O Seminário Descartes e a ideia de homem quer refletir sobre essas questões e outra correlatas, convocando um dos mais influentes filósofos da história do pensamento ocidental para enriquecer o atual debate a propósito da humanidade.